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sábado, 26 de maio de 2012

A PRIMAVERA ÁRABE E OS CAVALOS DE PINDER
 
Por volta de 1855, percorrendo as pequenas cidades da França, um pequeno circo equestre, de propriedade dos irmãos Pinder, George e William, oriundos da Inglaterra, ganhou extraordinária fama e renome. Os irmãos Pinder e seus filhos, além de exímios cavaleiros, eram acrobatas fantásticos. Com piruetas prodigiosas, em cima dos cavalos, arrancavam aplausos do público. Os cavalos do circo Pinder se tornaram célebres no mundo. Tudo porque andavam incansavelmente em círculos, no picadeiro, por horas inteiras. Voltando sempre ao mesmo lugar.
Não sei bem por quê, pensei nos cavalos do circo Pinder ao ler esta semana notícias sobre o último ciclo da Primavera Árabe no Egito.
A Primavera Árabe produziu um verdadeiro terremoto político, removendo placas geológicas do poder há muitos anos sedimentado na vida do país. A Primavera Árabe foi, acima de tudo, uma mobilização poderosa, um esforço inaudito, que fez sair às ruas forças inimagináveis da sociedade egípcia, que fez com que aflorassem profundas e desconhecidas energias democráticas da juventude árabe, que fez, enfim, emergir todo o vigor e revolta de um povo há 40 anos adormecido. No entanto, tal como os cavalos de Pinder, toda essa energia, toda essa erupção social, toda essa inédita tensão coletiva não foi mais do que simplesmente dar uma volta no picadeiro. Nas eleições presidenciais egípcias dois candidatos demonstraram força eleitoral e vão para o segundo turno: o militar Ahmed Shafiq, ex-primeiro-ministro de Hosni Mubarak, o presidente que foi deposto pelo furacão da Primavera, e Mohamed Morsi, vinculado a uma linha política conservadora que coloca o Egito na direção de se tornar uma república confessional, isto é, um país governado pelos preceitos do Alcorão, semelhantemente aos aiatolás do Irã. A sensação é a de que o Egito moveu céus e terras, sacrificou vidas e bens materiais, realizou um empreendimento popular gigantesco para, ao fim e ao cabo, andar em círculos e acabar no mesmo lugar. Como os cavalos de Pinder. Espero que o futuro desminta essa minha impressão.

P.S. Descobri recentemente que o Circo Pinder existe até hoje, percorrendo as cidades francesas e contando 158 anos da sua fundação.




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