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sexta-feira, 30 de março de 2012

MUDANÇAS NO MUNDO
  
A China de 2012 não é a mesma de 1975.
Na China de 1975 crianças aprendiam a conviver com armas de fogo.
A China de 2012 é a segunda economia do mundo
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quinta-feira, 29 de março de 2012

DON'T LIE TO ME, ARGENTINA 
No mientas para mi, Argentina. 
Não minta para mim, Argentina. 

A revista inglesa The Economist, a mais séria, mais consistente e mais prestigiada publicação sobre matéria econômica em todo o mundo, acaba de retirar os números referentes à Argentina dos quadros estatísticos que publica regularmente. The Economist é fonte de informação para governantes, investidores, empresários, cidadãos do mundo inteiro. Muitos se valem dessas informações para gerir seus investimentos, para tomar decisões estratégicas, para orientar os seus negócios, no longo, médio e até curto prazo. Por isso, a revista zela fervorosamente pela confiabilidade dos dados que publica. The Economist terminantemente deixou de publicar os dados sobre a Argentina há mais de uma semana. Porque esses dados não são confiáveis. A maquiagem e a manipulação têm sido a prática do atual governo argentino. A China tem números assustadores, porque são gigantescos. A Grécia tem números desastrosos. Mas ambos os países merecem credibilidade no que publicam. A Argentina não, diz The Economist. Desde 2007 o governo da sra. Kirchner publica dados que não correspondem à verdade da economia. Os números da inflação argentina, segundo as vozes oficiais, têm oscilado entre 5 e 11% nesse período. No entanto, todos os estudos técnicos sérios demonstram de forma cabal e irretorquível que a inflação tem sido, no mínimo, o dobro do que é publicado.


terça-feira, 27 de março de 2012


26 DE MARÇO: 240 ANOS

Não é possível negar: somos uma cidade mais do que  bicentenária. Tudo que vemos à nossa volta é fruto da maturidade dos séculos. Tudo que vemos à nossa volta é fruto de uma longa trajetória de esforços, idéias, emoções, lutas e sacrifícios - de todos nós e daqueles que vieram antes de nós. Neste dia dos 240 anos de Porto Alegre, é fundamental voltar o olhar, ainda que por alguns instantes, sobre esse passado, sobre os cuidados do tempo e toda essa generosa e fecunda história de almas, de vidas, de rostos, de homens e mulheres, que nos fizeram ser o que somos. Dos sobrados açorianos ao casario fincado nos morros, da Ponte de Pedra à Alfândega, das Dores aos Navegantes, da pequena freguesia do Porto dos Casais à trepidante metrópole desta segunda década do fantástico novo século.
Este é o espírito do aniversário: não se comemora uma situação eventual, não se festejam ganhos transitórios, mas todos nos despimos serenamente de nossas diferenças e celebramos um valor absoluto e generoso, um valor que nos engrandece - nossa identidade comum. A cidade trepida em suas vozes de ferro, mas também em sua profunda humanidade. É assim que eu a sinto. Com o coração, com a mente, com as mãos, com os olhos. Por isso, quando o sino mal começa a tocar na Catedral, quando vejo os pássaros que voam e sempre voltam para o cais, dá um coisa no meu peito que eu não sei se é normal. Olho em redor, respiro essa imensidão urbana e agradeço aos céus por vivermos todos debaixo deste mesmo céu, aqui e agora, unidos pelo mesmo destino de cidade.

segunda-feira, 26 de março de 2012

CHICO ANÍSIO: O MAIOR E O MELHOR DE TODOS OS TEMPOS E A ANTEVISÃO DO FACEBOOK
 
Acho que a mais importante homenagem que se pode fazer a Chico Anísio é dar-lhe o reconhecimento. Foi, sem sombra de dúvida, o maior e melhor humorista brasileiro de todos os tempos.
Após sua morte, ainda há elementos da sua genialidade que continuam a merecer nossa admiração. O Bahiano, personagem central do quadro Bahiano e os Novos Caetanos, um "magro" desligadão, hippie, sempre numa boa, sempre paz e amor e sempre voando alto (típico dos anos 70), já antecipava uma tendência da modernidade: a necessidade de comunicação em rede. Exatamente o que hoje está por trás do sucesso do fantástico mecanismo de interatividade que sustenta o facebook. Ou seja: o Bahiano de Chico Anísio tinha consciência de que integrava uma rede social, uma tribo conectada com outras tribos. E isso se transfigurava no seu irresistível bordão: "Vô batê pa tu pa tu batê pa tua patota". A tradução é simples: pessoas que pensavam mais ou menos do mesmo modo, compartilhando com um amigo, teriam seu pensamento compartilhado com amigos desse amigo. O que é isso, se não o facebook?

sexta-feira, 23 de março de 2012


Porto Alegre, 240 anos. Ocorreu-me reescrever um velho poema:

NÃO POSSO CANTAR MINHA CIDADE
  
Não posso cantar minha cidade / sem também falar dos bairros silenciosos e solitários / com suas casas modestas, diáfanas e permanentes / Sem falar do cheiro úmido das portas fechadas / nas antigas ladeiras / onde pequenas janelas se abrem para a noite. / Não posso cantar minha cidade / sem falar da dor dos homens da rua / das mulheres que sofrem caladas /da mesa posta / da generosa humildade / e do pão que reconcilia. / Não posso cantar minha cidade / sem falar das pessoas que rezam contritas nas igrejas. / Sem falar das moças que saem do trabalho / e inundam a cidade com suas vozes / e sua inefável esperança. / Não posso cantar minha cidade / sem falar das escassas pandorgas / da vegetação humilhada / das chuvas de setembro / e das foscas vidraças. / Sem o frio espesso das madrugadas / não há como cantar minha cidade. / Não posso cantar minha cidade / sem falar da sonoridade de ferro dos trens urbanos / da obstinação dos ventos / do enigma das esquinas / e da súbita canção que vem das praças. / Não posso cantar minha cidade / sem dizer / que ela também é isso. / E que sem isso / também não sei viver.

quinta-feira, 22 de março de 2012

"LOTTE & ZWEIG": OS CINCO ITINERÁRIOS DE UM ENIGMA E O BRASIL QUE FOMOS E SOMOS.


Na fatídica madrugada de 22 para 23 de fevereiro de 1942, o escritor Stefan Zweig e sua companheira foram encontrados mortos em um bangalô, na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Suicídio ou assassinato? A verdade sobre Stefan Zweig jamais foi trazida à luz.


Lembro que dois intelectuais estrangeiros foram citadíssimos no ambiente escolar e universitário da minha geração: o francês Roger Bastide e o austríaco Stefan Zweig. Bastide, como professor da USP, deixou um importantíssimo e denso legado acadêmico: estruturou o ensino de Sociologia e preparou uma plêiade de grandes professores brasileiros. Seus efeitos foram longos e duradouros. Zweig, por sua vez, viveu no Brasil por apenas alguns meses, em um transe breve - mas absolutamente trágico - da vida para a morte. Nem por isso as sementes que lançou deixaram de produzir frutos: seu livro "Brasil, o País do Futuro" marcou o discurso humanístico de uma época, em nosso país. Zweig era um intelectual respeitado em todos os circuitos internacionais do saber. "Brasil, o País do Futuro" é o resultado de rápida mas consistente pesquisa histórica e de viagens que aqui fez em um curto período de seis meses. De origem judaica, fugia das garras do nazismo. Acabou encontrando nos trópicos o seu triste destino. 
Agora, essa história de mistério e suspense, esse estranho amor de Zweig pela introspectiva Charlotte, são talentosamente contados em mais um romance do escritor Deonísio da Silva: "Lotte & Zweig". Deonísio da Silva arquiteta cinco linhas narrativas, a partir de diferentes perspectivas: do autor, de Zweig, da polícia brasileira, dos agentes do Reich e, finalmente, do ponto de vista de Charlotte Altmann, a Lotte. São, na verdade, cinco itinerários: o enigma da morte de Lotte e Zweig vai sendo dissecado pouco a pouco até o seu desfecho. Os distintos pontos de vista da narrativa, que parecem contraditórios e até excludentes entre si, acabam convergindo em direção a um vértice fatal, no qual o leitor é quem constrói a conclusão inevitável. Nos entreatos, Deonísio, com leveza e erudição, define quem é Zweig. Seu tamanho como intelectual, como biógrafo, como ensaísta, como conferencista e como grande amigo de Freud. Paralelamente, toda a perplexidade e solidão de Lotte, a silenciosa companheira, vai sendo revelada. Nesses tempos sôfregos, a mais recente obra de Deonísio da Silva é uma parada importante para pensar o Brasil. O Brasil que fomos e somos. "Lotte & Zweig" - sem dúvida - é um belo livro. É uma grata notícia para a literatura brasileira. 



240 ANOS: CARÁTER E IDENTIDADE
 
Há coisas que me fazem amar ainda mais nossa cidade. A peculiaridade especialíssima da nossa linguagem é uma delas. O porto-alegrês, afinal, é língua, idioma ou dialeto? Não importa. Os elementos da linguagem urbana regional resultam sempre de um grande ato de cooperação. Pela repetição, pelo uso, pelo costume, pelo tempo. É uma grande, inconsciente e maravilhosa construção coletiva.


São modos de falar muito próprios, muito característicos, que nos diferenciam e nós nem percebemos quanto. Ajudam a definir nosso caráter e nossa identidade. Na comemoração dos 240 anos de Porto Alegre, vale a pena rirmos um pouco (e nos orgulharmos) de nós mesmos. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

GEORGE CLOONEY, KONY 2012 E AS LENTES DO MUNDO - AS CRIANÇAS CONTINUAM SENDO INVISÍVEIS 
Los niños siguen siendo invisibles
The children are still invisibles 
No momento em que escrevo são 23:38 do dia 20 de março de 2012.
  

O vídeo Kony 2012 já foi visto por 83.734.012 pessoas. Não o trato com desprezo. Em primeiro lugar, porque ele pretende divulgar uma visão inegavelmente humanitária de um fato desconhecido, ainda que de forma ingênua e talvez precária. Em segundo lugar, porque esse vídeo foge à linha de um velho radicalismo ideológico conservador e tem a coragem de mostrar cruamente o quanto é falso supor que toda guerrilha tem vocação libertária. Muitas vezes, grupos rebeldes armados, independentemente da sua extração social, religiosa ou política, respondem, na verdade, a uma índole desumana e genocida.

Em terceiro lugar, notem: se um ditador no mundo árabe mata em guerra civil seus compatriotas, isso resulta em enormes manchetes planetárias. Porque afeta as fontes abastecedoras de petróleo, porque desestabiliza poderosos interesses monopolistas internacionais e porque - ao fim e ao cabo - abala as estruturas de Wall Street. Ao contrário, um morticínio de proporções devastadoras e desconhecidas na história humana, como tem acontecido em algumas regiões cruciais da África negra, é objeto do mais solene desinteresse por parte dos meios de informação. Africanos anônimos e inocentes morrem aos borbotões, são despejados em covas coletivas como animais, isso não atinge as franjas do capital financeiro internacional - o mundo silencia.

Talvez o grupo Invisible Children não estivesse preparado para uma tarefa política tão grandiosa como a que pretendeu, mas o video foi visto em 6 dias por 83 milhões de pessoas. O líder do Invisible Children não suportou o estresse e está hospitalizado. Não importa. Sua façanha é indesmentível: derrotou, sozinho, de forma acachapante, décadas de  indiferença e desatenção da mídia internacional em relação à África. Por isso, ele não será perdoado. É irrefutável: nenhum veículo de comunicação conseguiu alcançar, em qualquer momento da história da imprensa mundial, a eficácia, a força e a instantaneidade da sua mensagem. 
Esse fato, por si só, já seria motivo suficiente para ver a campanha desse vídeo como minimamente interessante.

Claro: a campanha é desideologizada e não avalia corretamente as forças em conflito em Uganda. Há torpeza dos dois lados, o enfoque escolhido estreita o sentido dos acontecimentos. Talvez o Invisible Children seja, aliás, o mais ruidoso exemplo de um fenômeno típico do nosso tempo, um fenômeno novo mas hoje muito recorrente na internet: uma espécie de ativismo político e filantrópico de brando engajamento, um novo idealismo juvenil desideologizado e "low profile", que alguns chamam de eslaquetivismo (slacktivism).

Alega-se que o caso Kony está defasado. Há poucas coisas que tenham me aterrorizado tanto quanto o que aconteceu em Ruanda em 1994 e o mundo não viu. O extermínio brutal de 800 mil seres humanos em uma jornada de sangue, devastação e morte: o massacre dos Tutsi na região norte do país, próximo à fronteira de Uganda. Isso está defasado?
Realmente: a morte é algo defasado e esquecido na África. 
E, sim, é verdade, esse vídeo é uma produção de alto custo. Sim, o grupo Invisible Children é constituído de jovens surfistas  de cabelos loiros e olhos azuis que vivem sob o sol do sul da Califórnia. Sim, a maior parte do dinheiro das doações se destina à confecção do video, à manutenção da instituição Invisible Children e à propaganda. Sim, apenas 37% dos recursos são empregados diretamente em assistência social na África. No entanto, é preciso dizer: não obstante todas essas verdades, os meios de comunicação poderiam ter aproveitado essa oportunidade ímpar para abrir o foco de suas lentes sobre a África. Mas não o fizeram. Preferiram chamar a atenção para as falhas do Invisible Children e esquecer o sofrimento infinito de mulheres que têm seu clitóris extirpado na infância e crianças que carregam metralhadoras aos 12 anos de idade. 

Se George Clooney protesta em frente à Embaixada do Sudão, o foco é todo em George Clooney. E as crianças que motivaram o seu protesto? Uma criança de nove anos teve suas mãos estraçalhadas por uma bomba, as crianças estão sendo sequestradas, violentadas e mortas pela fome, nas montanhas sudanesas de Nuba, no estado do Kordofan, próximo à fronteira do recém-emancipado Sudão do Sul. Quem esclareceu isso? Por um processo de abstração, tudo se explica e se resolve na foto do ator americano, acompanhando seu pai. O resto é apenas o resto. O resto é um continente perdido, esquecido e abandonado.
Desse modo jamais poderemos debater e desenvolver, como nações do mundo desenvolvido e do mundo em desenvolvimento, formas de abordagem e militância internacional baseadas em um prática respeitosa, humanitária e necessariamente não-intervencionista. Um novo modelo de solidariedade que não destrua a autonomia e a autodeterminação histórica das etnias. As falhas do Invisible Children talvez sejam produto da ausência desse debate.
De minha parte, prefiro entender o que esses jovens fizeram como um chamamento. Como um alerta. Um alerta que nos obriga a todos a lançar um novo olhar sobre a África. Um alerta que nos obriga, queiramos ou não, a tentar compreender o incompreensível. Obriga-nos, sim, queiramos ou não, a enxergar o horror inominável: o invisível holocausto a que um enorme contingente humano pobre e desprotegido da África negra vem sendo submetido.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O PARADOXO DO INIMIGO IMPRESCINDÌVEL
 
Sabe em que eu estou pensando? O planeta inteiro viu, na tela da TV, Kadhaffi ser caçado, desentocado e morto como um animal. A brutalidade vertiginosa do assassinato de Kadhaffi ainda está em nossas retinas. Kadhaffi semeou violência e colheu a sua própria destruição. Inglaterra, França e Estados Unidos intervieram a fundo na guerra civil da Líbia, sob a alegação de que era preciso pôr um fim a um caudal interminável de atrocidades. Kadhaffi resistiu insanamente até ser executado por soldados rebeldes em um tumulto de cólera, gritos, sangue e bestialidade humana - diante dos olhos estarrecidos do mundo. Algo assustador e sem precedentes. No entanto, nos últimos anos, Kadhaffi vinha se aproximando lentamente dos Estados Unidos e da Europa. 


Não pude deixar de pensar em Kadhaffi e em contradições ao ver que agora se reproduz na Síria o mesmo cenário. O mesmo filme passa de novo: oposição armada ou pessoas simples, inconformadas com o regime, têm suas vidas ceifadas sumariamente, há acusações de que mulheres têm sido vítimas de práticas de abuso e violência, meninos sofrem humilhação diante de suas próprias mães, um milhão e quatrocentas mil pessoas estão sob ameaça de fome. A morte campeia nas ruas de Homs e Damasco. 

A família de Bashar está indespegavelmente assentada no poder há mais de 4 décadas. Bashar assumiu após a morte do pai, Hafez. A família Al-Assad domina a Síria indisputavelmente há 41 anos. Bashar - numa direção inversa àquela que Kadhaffi vinha percorrendo, vejam a contradição - apoia graniticamente o programa nuclear de Ahmadinejad no Irã. É difícil compreender. Por que as potências não intervêm? Por que Bashar é tratado com equidistância, diferentemente de Kadhaffi? A resposta está em um princípio estratégico de guerra política: "o paradoxo do inimigo imprescindível". A insurreição armada é liderada por extremistas religiosos vinculados ao Salafismo, corrente sunita próxima ao Al-Qaeda. Por isso, as potências não mexem com Bashar. Um país nas mãos de sunitas radicais seria muito menos controlável. É o paradoxo do inimigo imprescindível: ruim com ele, pior sem ele.

terça-feira, 13 de março de 2012


DUZENTOS E CINQUENTA ANOS NO TOPO DAS PARADAS


Grandes parcerias: Tom e Vinícius (Garota de Ipanema), Lennon e McCartney (A Hard Day's Night), Vadico e Noel Rosa (Conversa de Botequim), Harold Arlen e E. Y. Harburg (Somewhere Over the Rainbow), Kiedis, Smith, Flea e Frusciante - Red Hot Chili Peppers (Californication). Apresento a vocês Lorenzo da Ponte, um cara cujo parceiro não era ninguém menos que Wolfgang Amadeus Mozart. A dupla Mozart-Da Ponte compôs inúmeras óperas de grande sucesso internacional. Mozart musicou letras de Lorenzo da Ponte, como "As Bodas de Fígaro" e "Don Giovanni", duas das óperas mais executadas em todos os tempos. Compostas no século XVIII, passados quase 250 anos continuam no topo das paradas.
 1984: A LEI DE INFORMÁTICA E O

 FECHAMENTO DA ECONOMIA

De 79 a 80, apesar de altos e baixos, ao fim e ao cabo houve também forte desindustrialização no conjunto da década. É dessa época a Lei de Informática, que fechou as portas do país à entrada de qualquer coisa estrangeira no ramo da informática. O fracasso dessa iniciativa, que isolou e retardou o Brasil nessa área, nos ajuda a compreender que fechar a economia não é certeza de industrialização. Com a economia fechada como um garrote, também houve desindustrialização no Brasil, na chamada "década perdida" que foi a dos anos 80. Essa é uma afirmação técnica, não política. Pessoalmente, me incluo entre aqueles que votaram a favor dessa lei, como deputado federal que era. Acreditava que, fechando o país, nossa indústria floresceria. Mas a realidade foi outra. Vejam o que disse a revista " Isto É" a respeito da Lei de Informática (que foi aprovada com meu voto, reconheço): "A Lei de Informática, aprovada em 1984, é fruto da união improvável de dois inimigos políticos. O empresariado brasileiro, que via o negócio de computadores como uma fonte de lucros futuros, pressionou o governo militar, de origem nacionalista para proteger a indústria nascente. Os generais foram encontrar apoio justamente nos políticos de esquerda.
O resultado foi a oferta de produtos muito mais caros do que a média global, de qualidade inferior e, pior, sem o desenvolvimento de tecnologia nacional. As máquinas custavam em média US$ 5 mil. Além disso, quando chegavam ao mercado, já eram consideradas obsoletas. Como a lei impedia que equipamentos disponíveis localmente fossem importados, vários outros setores, como o têxtil e o automobilístico, ficaram tecnologicamente atrasados".

segunda-feira, 12 de março de 2012


QUANDO TODOS PARECEM ESTAR HIPNOTIZADOS
Heil Hitler, não! 

Sempre há alguém capaz de manter a lucidez e dizer não.
Ele não foi apenas um nada na multidão. Seu nome é August Landemesser. Anos após sua morte, um de seus dois filhos o identificou nessa foto. Para ele, August, um gesto espontâneo, anônimo, quase despercebido. Ele foi punido por isso. Mas o destino permitiu que seu gesto ficasse para a História. Como um símbolo da defesa da sua integridade de consciência. Como um ato de coragem e de heroísmo inultrapassável.                                       

domingo, 11 de março de 2012


A ERA DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO: 1979-2011

O Brasil de 2011, em termos de participação da indústria no PIB, é igual ao Brasil de 1956, de Juscelino Kubitschek. Em 32 anos, o país se desindustrializou. Qual a explicação para isso? 

quinta-feira, 8 de março de 2012

8 DE MARÇO - APRENDENDO A APRENDER
 
O voto feminino faz 80 anos no Brasil. Ao olhar para homens da minha idade, 65, posso dar testemunho do turbilhão de mudanças que, na voragem dessas décadas, atravessou nossas vidas. 


Quando viemos ao mundo, era o após-guerra. O direito ao exercício do voto pelas mulheres não tinha sequer completado ainda 15 anos de existência. Nascemos, portanto, em um mundo em transformação. Quantos patamares novos galgamos, quantas etapas tivemos que vencer. Quantos velhos paradigmas tivemos que destruir. Um homem comum, como eu, filho de um pequeno farmacêutico de bairro e de uma dona de casa, com origem em família da zona rural, foi um aos 15, outro aos 30, um novo homem aos 45 e seguramente uma pessoa diferente agora. Refiro-me à questão da igualdade de gênero. 

A revolução soviética veio e se foi. A revolução hippie, da Era de Aquarius, veio, deixou suas marcas, mas se esfumaçou. A revolução tecnológica nos afeta todos os dias e - creio eu - lutamos também todos os dias para sermos sujeitos e não objetos das inovações surpreendentes que ela impõe às nossas vidas. Mas há uma revolução que nos atingiu a alma, que mudou o nosso modo de ser visceralmente, que libertou a muitos de nós de um mundo primitivo e atrasado. Foi algo que revolveu valores no mais profundo de nós mesmos e segue revolvendo e nos transformando a cada passo, a todo momento. Nada mudou tanto nossas vidas como o novo protagonismo feminino. Não há dúvida: a revolução mais importante do século XX foi a revolução da mulher. Foi a grande revolução que veio para ficar, avançar dia a dia e produzir frutos e consequências concretas para o futuro. 

Alguns homens participam, outros nem tanto, alguns observam e não entendem, mas todos tivemos que aprender. Na vida real, direta e cotidiana. A igualdade de gênero, plena em direitos e oportunidades, ainda está longe. Por isso, é importante continuar mudando. Por isso, é importante continuarmos sendo essa metamorfose ambulante. Ainda há muito que caminhar. Cada dia é um novo dia - e é preciso estar sempre aprendendo a aprender.

terça-feira, 6 de março de 2012

O NOVO CZAR CONTEMPORÂNEO

As eleições do último domingo, na Rússia, em um ambiente de tensão, turbulência e graves questionamentos, produziram um único e grande vencedor: Vladimir Putin.
Putin tem origem na Polícia Secreta do regime soviético. Entrou na política e teve ascensão fulminante. Como se sabe, poder de polícia e carreira política juntos constituem uma combinação perigosa para a democracia, mas benéfica para ambições pessoais. A via da espionagem, da intimidação, da surda ameaça, a improbidade no uso dos instrumentos de investigação, podem vir a ser armas de grande eficácia para eliminar adversários. Putin quer ficar 24 anos no poder. Sua estratégia não foge à grande vocação imperial e autoritária da história russa. 

No quadro acima pode se ver perfeitamente a estratégia de poder de Putin.
Daqui de longe, de onde olhamos, a Rússia parece ser um país governado no piloto automático. Nada de novo acontece. Nada de novo sob o sol. Ou melhor: sobre o gelo. 

Na verdade, o país é tocado com mão de ferro. A Rússia nunca chegou a experimentar de fato aquilo que no mundo ocidental costumamos chamar de democracia. Pelo menos não nos termos propostos pelos pais do Iluminismo. Desde a era pré-moderna, sob o tacão de Ivan, o Terrível, o país dos czares tem vivido sob uma longa e visceral cultura autocrática. Durante o período em que a Rússia esteve à frente da União Soviética, Stalin soube ser o pesado símbolo desse caudal histórico. Mais do que isso: foi uma inflexível correia de transmissão dessa prática de poder de quatrocentos séculos. 

Putin, o Presidente da República foi eleito no dia 4 de março de 2012, com mais de 63% dos votos em primeiro turno. É difícil alegar que sua vitória se deve simplesmente a um esquema de fraudes eleitorais. É difícil - não porque as fraudes não existam - mas porque esses números já apareciam nas pesquisas pré-eleitorais, feitas por instituições internacionais independentes. A oposição sofre repressão implacável, mas não se dobra: há intensos protestos de rua. Observadores internacionais denunciam:  mais de mil prisões foram realizadas para constranger os que resistem ao duro modelo político vigente. 

Os processos políticos, às vezes, no entanto, são mais sutis do que supomos. É preciso dizer: Putin é um homem popular. Sua popularidade existe principalmente por duas razões. A primeira delas diz respeito ao extraordinário e induvidoso crescimento econômico da Rússia nos últimos anos, exatamente no período que coincide com seu comando. A ascensão de Putin venho acompanhada de um salto dramático no PIB. Em doze anos, a riqueza total do país mais do que dobrou, chegando a cerca de dois trilhões e duzentos bilhões de dólares. O ciclo econômico virtuoso que favorece a Rússia é o mesmo que favorece os outros integrantes do BRIC: Brasil, Índia e China. Há um conjunto de elementos inerentes à nova dinâmica da economia mundial que, de forma muito semelhante, tem feito os ventos soprarem em favor desses quatro países. Tal qual os governantes dos outros três, Putin é beneficiário político dessa conjuntura.

A segunda razão está no culto exacerbado e incessante que Putin faz de sua imagem e de sua personalidade. Ele aparece pilotando aviões a jato, nadando em rios gelados, atirando com os famosos rifles de fabricação russa, esquiando em lugares ermos e elevados, montando intrepidamente seu cavalo ou praticando arte marcial. Putin não perde uma só oportunidade para mostrar, em cadeia nacional, o seu alto desempenho atlético e militar. Ele não é apenas o supercomandante em chefe. Ele é também um superastro.

Dimitri Medvedev e Vladimir Putin. Quem manda?
Medvedev presidiu o país nesses últimos quatro anos quase como uma espécie de Rainha da Inglaterra. O poder - ninguém hesitaria em afirmar - sempre esteve nas mãos de Putin. Eleito para um mandato de seis anos, poucos têm dúvida de sua reeleição em 2018. Putin exercerá plenamente o poder por um quarto de século. Como um novo czar contemporâneo.