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sexta-feira, 16 de março de 2012

O PARADOXO DO INIMIGO IMPRESCINDÌVEL
 
Sabe em que eu estou pensando? O planeta inteiro viu, na tela da TV, Kadhaffi ser caçado, desentocado e morto como um animal. A brutalidade vertiginosa do assassinato de Kadhaffi ainda está em nossas retinas. Kadhaffi semeou violência e colheu a sua própria destruição. Inglaterra, França e Estados Unidos intervieram a fundo na guerra civil da Líbia, sob a alegação de que era preciso pôr um fim a um caudal interminável de atrocidades. Kadhaffi resistiu insanamente até ser executado por soldados rebeldes em um tumulto de cólera, gritos, sangue e bestialidade humana - diante dos olhos estarrecidos do mundo. Algo assustador e sem precedentes. No entanto, nos últimos anos, Kadhaffi vinha se aproximando lentamente dos Estados Unidos e da Europa. 


Não pude deixar de pensar em Kadhaffi e em contradições ao ver que agora se reproduz na Síria o mesmo cenário. O mesmo filme passa de novo: oposição armada ou pessoas simples, inconformadas com o regime, têm suas vidas ceifadas sumariamente, há acusações de que mulheres têm sido vítimas de práticas de abuso e violência, meninos sofrem humilhação diante de suas próprias mães, um milhão e quatrocentas mil pessoas estão sob ameaça de fome. A morte campeia nas ruas de Homs e Damasco. 

A família de Bashar está indespegavelmente assentada no poder há mais de 4 décadas. Bashar assumiu após a morte do pai, Hafez. A família Al-Assad domina a Síria indisputavelmente há 41 anos. Bashar - numa direção inversa àquela que Kadhaffi vinha percorrendo, vejam a contradição - apoia graniticamente o programa nuclear de Ahmadinejad no Irã. É difícil compreender. Por que as potências não intervêm? Por que Bashar é tratado com equidistância, diferentemente de Kadhaffi? A resposta está em um princípio estratégico de guerra política: "o paradoxo do inimigo imprescindível". A insurreição armada é liderada por extremistas religiosos vinculados ao Salafismo, corrente sunita próxima ao Al-Qaeda. Por isso, as potências não mexem com Bashar. Um país nas mãos de sunitas radicais seria muito menos controlável. É o paradoxo do inimigo imprescindível: ruim com ele, pior sem ele.