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terça-feira, 6 de março de 2012

O NOVO CZAR CONTEMPORÂNEO

As eleições do último domingo, na Rússia, em um ambiente de tensão, turbulência e graves questionamentos, produziram um único e grande vencedor: Vladimir Putin.
Putin tem origem na Polícia Secreta do regime soviético. Entrou na política e teve ascensão fulminante. Como se sabe, poder de polícia e carreira política juntos constituem uma combinação perigosa para a democracia, mas benéfica para ambições pessoais. A via da espionagem, da intimidação, da surda ameaça, a improbidade no uso dos instrumentos de investigação, podem vir a ser armas de grande eficácia para eliminar adversários. Putin quer ficar 24 anos no poder. Sua estratégia não foge à grande vocação imperial e autoritária da história russa. 

No quadro acima pode se ver perfeitamente a estratégia de poder de Putin.
Daqui de longe, de onde olhamos, a Rússia parece ser um país governado no piloto automático. Nada de novo acontece. Nada de novo sob o sol. Ou melhor: sobre o gelo. 

Na verdade, o país é tocado com mão de ferro. A Rússia nunca chegou a experimentar de fato aquilo que no mundo ocidental costumamos chamar de democracia. Pelo menos não nos termos propostos pelos pais do Iluminismo. Desde a era pré-moderna, sob o tacão de Ivan, o Terrível, o país dos czares tem vivido sob uma longa e visceral cultura autocrática. Durante o período em que a Rússia esteve à frente da União Soviética, Stalin soube ser o pesado símbolo desse caudal histórico. Mais do que isso: foi uma inflexível correia de transmissão dessa prática de poder de quatrocentos séculos. 

Putin, o Presidente da República foi eleito no dia 4 de março de 2012, com mais de 63% dos votos em primeiro turno. É difícil alegar que sua vitória se deve simplesmente a um esquema de fraudes eleitorais. É difícil - não porque as fraudes não existam - mas porque esses números já apareciam nas pesquisas pré-eleitorais, feitas por instituições internacionais independentes. A oposição sofre repressão implacável, mas não se dobra: há intensos protestos de rua. Observadores internacionais denunciam:  mais de mil prisões foram realizadas para constranger os que resistem ao duro modelo político vigente. 

Os processos políticos, às vezes, no entanto, são mais sutis do que supomos. É preciso dizer: Putin é um homem popular. Sua popularidade existe principalmente por duas razões. A primeira delas diz respeito ao extraordinário e induvidoso crescimento econômico da Rússia nos últimos anos, exatamente no período que coincide com seu comando. A ascensão de Putin venho acompanhada de um salto dramático no PIB. Em doze anos, a riqueza total do país mais do que dobrou, chegando a cerca de dois trilhões e duzentos bilhões de dólares. O ciclo econômico virtuoso que favorece a Rússia é o mesmo que favorece os outros integrantes do BRIC: Brasil, Índia e China. Há um conjunto de elementos inerentes à nova dinâmica da economia mundial que, de forma muito semelhante, tem feito os ventos soprarem em favor desses quatro países. Tal qual os governantes dos outros três, Putin é beneficiário político dessa conjuntura.

A segunda razão está no culto exacerbado e incessante que Putin faz de sua imagem e de sua personalidade. Ele aparece pilotando aviões a jato, nadando em rios gelados, atirando com os famosos rifles de fabricação russa, esquiando em lugares ermos e elevados, montando intrepidamente seu cavalo ou praticando arte marcial. Putin não perde uma só oportunidade para mostrar, em cadeia nacional, o seu alto desempenho atlético e militar. Ele não é apenas o supercomandante em chefe. Ele é também um superastro.

Dimitri Medvedev e Vladimir Putin. Quem manda?
Medvedev presidiu o país nesses últimos quatro anos quase como uma espécie de Rainha da Inglaterra. O poder - ninguém hesitaria em afirmar - sempre esteve nas mãos de Putin. Eleito para um mandato de seis anos, poucos têm dúvida de sua reeleição em 2018. Putin exercerá plenamente o poder por um quarto de século. Como um novo czar contemporâneo.