MARINA NASCEU E MAL ABRIA OS OLHOS. O QUE SEUS OLHOS VERÃO NO FUTURO?
out/2011
Água, ar e luz: paisagem do sul da Nova Zelândia. Foto de Martim Fogaça. |
A linda Marina, filha dos meus jovens sobrinhos Fernanda e Fábio, nasceu em outubro passado. Nos braços da enfermeira, mal abria os olhos. Pensei: os olhos de Marina são muito importantes. Eles vão ver um futuro que eu não vou ver. O dia 31 de outubro de 2011 parecia uma segunda-feira como outra qualquer, como costumam ser as segundas-feiras mais comuns na existência de cada um. No entanto, exatamente naquele dia os jornais anunciavam a cifra fantástica de 7 bilhões de seres humanos sobre a face da Terra. É imperceptível a olho nu, é ao mesmo tempo curioso e fascinante, mas é acima de tudo assustador. Não foi uma segunda-feira qualquer. Foi muito mais do que isso: foi um marco em nossas vidas e um momento angular e único na vida do Homem sobre o planeta. Antes de mais nada, um ponto de referência para as gerações futuras.
Vejam só: entre o período interglacial do Pleistoceno Médio e o ano de 1950, ano da Copa do Mundo no Brasil, o homo sapiens, segundo calculam os cientistas, levou 200 mil anos para chegar a uma população de 2,5 bilhões, em todo o mundo. De repente, no entanto, num raio de segundo histórico, ou seja, em apenas 60 anos, demos um enorme salto para 7 bilhões. A odisséia humana é mesmo fantástica nesse pedaço do universo em que nos foi dado viver. Ao longo de milhões e milhões de anos, a população mundial teve crescimento quase vegetativo. De uma hora para outra, estamos explodindo. Em 2050, serão 9 bilhões. As consequências são impressionantes e - me perdoem - inocultáveis. Precisaremos produzir 70% mais alimentos do que produzimos hoje. Nesse cenário emergirá vigorosamente o grande e essencial fator de sobrevivência para todos os seres vivos: a água. Não só para satisfazer nossas necessidades orgânicas, mas para produzir energia e alimentos. Somos ainda dramaticamente incapazes de medir o valor e a nova dimensão estratégica vital que esse recurso passará a ter nas décadas vindouras. Mas uma coisa posso lhes afirmar, com a certeza de quem não estará lá: a preservação da vida humana dependerá da mãe Terra e de como cuidarmos dela. É a nossa pré-condição biológica. E, cada vez mais, nosso dever e destino como espécie. Como será esse futuro incerto e admirável? É o que verão os olhos de Marina.