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domingo, 29 de janeiro de 2012

OS OLHOS DE MARINA
MARINA NASCEU E MAL ABRIA OS OLHOS. O QUE SEUS OLHOS VERÃO NO FUTURO?
out/2011  
Água, ar e luz: paisagem do sul da Nova Zelândia. Foto de Martim Fogaça.


A linda Marina, filha dos meus jovens sobrinhos Fernanda e Fábio, nasceu em outubro passado. Nos braços da enfermeira, mal abria os olhos. Pensei: os olhos de Marina são muito importantes. Eles vão ver um futuro que eu não vou ver. O dia 31 de outubro de 2011 parecia uma segunda-feira como outra qualquer, como costumam ser as segundas-feiras mais comuns na existência de cada um. No entanto, exatamente naquele dia os jornais anunciavam a cifra fantástica de 7 bilhões de seres humanos sobre a face da Terra. É imperceptível a olho nu, é ao mesmo tempo curioso e fascinante, mas é acima de tudo assustador. Não foi uma segunda-feira qualquer. Foi muito mais do que isso: foi um marco em nossas vidas e um momento angular e único na vida do Homem sobre o planeta. Antes de mais nada, um ponto de referência para as gerações futuras. 

Vejam só: entre o período interglacial do Pleistoceno Médio e  o ano de 1950, ano da Copa do Mundo no Brasil, o homo sapiens, segundo calculam os cientistas,  levou 200 mil anos para chegar a uma população de 2,5 bilhões, em todo o mundo. De repente, no entanto, num raio de segundo histórico, ou seja, em apenas 60 anos, demos um enorme salto para 7 bilhões. A odisséia humana é mesmo fantástica nesse pedaço do universo em que nos foi dado viver. Ao longo de milhões e milhões de anos, a população mundial teve crescimento quase vegetativo. De uma hora para outra, estamos explodindo. Em 2050, serão 9 bilhões. As consequências são impressionantes e - me perdoem - inocultáveis. Precisaremos produzir 70% mais alimentos do que produzimos hoje. Nesse cenário emergirá vigorosamente o grande e essencial fator de sobrevivência para todos os seres vivos: a água. Não só para satisfazer nossas necessidades orgânicas, mas para produzir energia e alimentos. Somos ainda dramaticamente incapazes de medir o valor e a nova dimensão estratégica vital que esse recurso passará a ter nas décadas vindouras. Mas uma coisa posso lhes afirmar, com a certeza de quem não estará lá: a preservação da vida humana dependerá da mãe Terra e de como cuidarmos dela. É a nossa pré-condição biológica. E, cada vez mais, nosso dever e destino como espécie. Como será esse futuro incerto e admirável?  É o que verão os olhos de Marina.

TEXTO, MÚSICA & LETRA: "BONITA" / NO MEIO DO NADA, UM SEGUNDO

NO MEIO DO NADA, UM SEGUNDO
  
Andávamos de carro por uma dessas longas estradas do Rio Grande. Paramos num posto de gasolina para abastecimento. Saí do carro, estiquei as pernas, fui sentir o ar da noite mais ali pra perto do asfalto. Não havia viva alma. Era como se a gente estivesse no meio do nada. Só havia quietude, cometas, insetos e silêncio. Foi um segundo, apenas. Era madrugada, o verão havia chegado por inteiro e eu estava a caminho de casa. Voltei para o carro e retomamos a estrada. Quande cheguei a Porto Alegre, essa música estava pronta na minha cabeça. É engraçado como algumas canções nascem no meio do nada, em um segundo apenas.

Veja a letra e clique logo abaixo para ouvir a música 
BONITA
Quando a água da lua / Vem molhar os teus pés / E os insetos da noite / Se calam pra ouvir / Pra ouvir tua voz / Que silêncio que faz / O mundo inteiro fica em paz / A última estrela / Também fala baixinho / E a rosa dos ventos / Vem escutar / Pedindo licença / Pra ouvir tua voz / Até a tristeza / Se esquece de nós / Bonita / Como o sol de uma nova estação / Bonita / Que ilumina a minha emoção / Bonita / Me dá teu amor e o verão / Bonita / Leva o inverno do meu coração / Um cometa, um bêbado errante / Fica só um instante / E logo se vai / Ele conta um segredo / Eu não digo a ninguém / Que os teus olhos / Têm segredos também / O dia abre os braços / Pra espreguiçar / Pra acordar a cidade / E nos abraçar / Todo mal eu espanto / Ao ouvir tua voz / Como que um quebranto / Toma conta de nós / Bonita...


CLIQUE AQUI PARA OUVIR:
Bonita - Intérprete: Victor Hugo / Compositor: José Fogaça

A ERA DOS EXTREMOS: UM SACO DE OBSESSÕES IDEOLÓGICAS

Meu texto recente sobre o filme Cavalo de Ferro e a Guerra de 1914 me fez lembrar de um livro que está entre os três  mais importantes que li em toda minha vida: "A Era dos Extremos", de Eric Hobsbawn. Esse livro, acho que lá por 1995, simplesmente desvendou diante dos meus olhos todo o enigma do século XX. Hobsbawn decifrou para mim a esfinge da era do dogma e da catástrofe. E me fez compreender o incompreensível: o desvario político-ideológico que hipnotizou boa parte da minha geração e da geração que nos antecedeu.
A era dos extremos de Hobsbawn se circunscreve a um período determinado: os vertiginosos 77 anos entre 1914 e 1991. Quer dizer: do início da I Guerra Mundial à extinção do Estado Soviético. O breve século XX. O século em que o sonho acabou. Nada se compara na História, diz Hobsbawn, ao ceifamento de vidas em massa ocorrido na I Guerra Mundial. Nem as hordas de Átila, nem os exércitos de Gengis Khan, nem a ocupação sarracena da Península Ibérica, nem as invasões bárbaras. Nada. Em nenhum momento anterior da experiência do homem sobre a face da Terra imperou tanta irracionalidade. Nunca antes havia sido posto em marcha, de forma tão fulminante e devastadora, um mecanismo tão absurdo e eficiente de destruição de vidas humanas. Por terra, mar e ar. Aviões de combate, potentíssimos canhões de 207 mm, metralhadoras Lewis, leves e mortíferas, peças antiaéreas, navios e submarinos com elevado poder de propulsão, balões de sondagem, novos e revolucionários sistemas de referenciação, incluindo fonolocalizadores, projetores de luz e radares. Em 1914 iniciou-se a escalada de uma nova e sofisticadíssima tecnologia da morte. 


Que se desdobraria na II Grande Guerra, na brutalidade do Holocausto, no horror da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945, estendendo-se por cinco décadas de medo e pânico que foram os anos da Guerra Fria e dos mísseis nucleares. Tudo isso em nome de um saco de crenças e obsessões ideológicas. De Hitler a Stalin, cada um se achando o detentor exclusivo do destino dos povos, cada um se achando o portador privilegiado de uma "solução final" para a grandeza do gênero humano. 
Andreas Baader
líder do Baader-Meinhof 
Trouxeram apenas dor e desesperança em proporções gigantescas. Já iniciamos a segunda década do século XXI  e o extremismo ainda não morreu.  


Ulrike Meinhof
líder do Baaden-Meinhof 
Aparece sob várias formas, velhas, tardias, obsoletas, mas reais em fanatismo e ambiçao de poder. Às vezes, infelizmente, mais próximos do nosso quintal do que imaginamos.


Perdoem-me, é domingo e eu não falei de flores.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012


A MASSIFICAÇÃO DA IMAGEM E A ALFABETIZAÇÃO VISUAL DAS CRIANÇAS
Preste atenção nas ilustrações. O livro, para os pequenos leitores, hoje como ontem, não é só texto. A ilustração gráfica dos livros infantis é essencial à alfabetização visual da criança. A cor, a sutileza das nuances e das variações, a textura, a linha, o espaço, o ritmo, a forma como os elementos se compõem dentro do desenho, a dinâmica da imagem e da história que está sendo contada. Nesse nosso admirável mundo contemporâneo, três quartos do que uma criança recebe como informação, no seu intenso e múltiplo dia a dia, vêm da visão: cinema, televisão, logos publicitários, flyers, brochuras, outdoors, banners, arte hip hop das ruas, a tela do computador, o design industrial, a nova arquitetura urbana: uma "colagem" multifacetada e policrômica de diferentes mídias e objetos visuais nos cercam por todos os lados. Em um mundo em que tudo é subjugado pela visualidade, a palavra escrita também pode se perder. Por isso, a função da ilustração gráfica do livro infantil, em nosso tempo, é sobretudo o de ajudar a criança a não sucumbir à massificação da imagem. Desafiar o espírito, acender a curiosidade, incitar ao saber. Enfim, estimular a criança a encontrar dentro de si mesma os valores estéticos que vão dar conteúdo e sentido à sua vida. Para que, quando adulto, possa olhar uma obra de arte e nela encontrar um novo estado de alma, um novo significado, uma nova compreensão de si mesmo e dos outros. A ilustração que aqui vemos, de Wagner Passos, do álbum Illustrations, é um belo exemplo. Lírico, intimista, suave e instigantemente surrealista. É um verdadeiro tratado sobre delicadeza humana, inocência e solidão.

CAVALO DE GUERRA


UM FILME SOBRE NÓS, OS SERES HUMANOS





Indicado para o Oscar 2012 como melhor filme. Direção de Steven Spielberg. Baseado no romance de Michael Morpurgo, "War Horse".

No fim de semana, decidimos ver um filme pra toda família: "Cavalo de Guerra". Ao final, deixamos a sala de cinema, Francesca, Isabela e eu, com a certeza de ter visto um filme extraordinário. No condado de Devon, na Inglaterra georgiana do princípio do século passado, um jovem inglês se decepciona com seu pai, velho e claudicante, até descobrir, em um antigo baú, medalhas de guerra, honrarias e insígnias militares que o pai esconde. Por quê? Porque ele tem vergonha, responde a mãe. Vergonha? Sim, ele sobreviveu aos campos de batalha, salvou a vida de companheiros, foi condecorado pelo Rei como herói de guerra, mas não suporta a idéia de saber que, para isso, teve que matar. "Ele tem a coragem de ter vergonha", diz a mãe. É o primeiro grande ensinamento do filme. 



Os campos verdes, férteis e pedregosos do sudoeste da Inglaterra são o pano de fundo de uma intensa relação de amizade entre o menino e o seu cavalo. E é justamente essa amizade que acaba por levá-lo ao olho do furacão. O front de batalha. Um inferno de ferro e sangue. A Guerra de 1914 foi o encontro fatal de dois mundos, na esquina do século. O mundo primitivo e arcaico da tração animal se depara absurdamente com uma nova e poderosa tecnologia de extermínio: armas absolutamente mortíferas, dotadas de um potencial de destruição até então desconhecidos. O cavalo e o sabre contra metralhadoras de 37mm de altíssima letalidade. Refinados cavaleiros e suas soberbas montarias, altamente treinados para os mais antigos e superiores preceitos da arte militar, foram eliminados como moscas, às centenas de milhares. A Frente Ocidental era um máquina de ceifar vidas. Eric Hobsbawn, em seu livro "A Era dos Extremos", diz que 420 mil jovens ingleses morreram nesse caos de lama, crateras inundadas, árvores calcinadas, arame farpado e cadáveres abandonados. É nesse contexto que Spielberg insere a deslumbrante história de seu cavalo de guerra, num cenário de aventura, paixão, morte, beleza e esperança. 


O filme faz uma primorosa e comovente homenagem ao heroísmo dos cavalos de guerra. É um tributo à coragem, mas não é um filme sobre cavalos. É um filme sobre nós, os seres humanos, e nossa capacidade de ultrapassar todos os limites da racionalidade, para além do frágil limiar da vida, nessa última fronteira da insensatez e da loucura que é a guerra.
Francesca e Isabela choraram muito durante o filme. E eu...bom...quer dizer.