UM FILME SOBRE NÓS, OS SERES HUMANOS
Indicado para o Oscar 2012 como melhor filme. Direção de Steven Spielberg. Baseado no romance de Michael Morpurgo, "War Horse".
No fim de semana, decidimos ver um filme pra toda família: "Cavalo de Guerra". Ao final, deixamos a sala de cinema, Francesca, Isabela e eu, com a certeza de ter visto um filme extraordinário. No condado de Devon, na Inglaterra georgiana do princípio do século passado, um jovem inglês se decepciona com seu pai, velho e claudicante, até descobrir, em um antigo baú, medalhas de guerra, honrarias e insígnias militares que o pai esconde. Por quê? Porque ele tem vergonha, responde a mãe. Vergonha? Sim, ele sobreviveu aos campos de batalha, salvou a vida de companheiros, foi condecorado pelo Rei como herói de guerra, mas não suporta a idéia de saber que, para isso, teve que matar. "Ele tem a coragem de ter vergonha", diz a mãe. É o primeiro grande ensinamento do filme.
Os campos verdes, férteis e pedregosos do sudoeste da Inglaterra são o pano de fundo de uma intensa relação de amizade entre o menino e o seu cavalo. E é justamente essa amizade que acaba por levá-lo ao olho do furacão. O front de batalha. Um inferno de ferro e sangue. A Guerra de 1914 foi o encontro fatal de dois mundos, na esquina do século. O mundo primitivo e arcaico da tração animal se depara absurdamente com uma nova e poderosa tecnologia de extermínio: armas absolutamente mortíferas, dotadas de um potencial de destruição até então desconhecidos. O cavalo e o sabre contra metralhadoras de 37mm de altíssima letalidade. Refinados cavaleiros e suas soberbas montarias, altamente treinados para os mais antigos e superiores preceitos da arte militar, foram eliminados como moscas, às centenas de milhares. A Frente Ocidental era um máquina de ceifar vidas. Eric Hobsbawn, em seu livro "A Era dos Extremos", diz que 420 mil jovens ingleses morreram nesse caos de lama, crateras inundadas, árvores calcinadas, arame farpado e cadáveres abandonados. É nesse contexto que Spielberg insere a deslumbrante história de seu cavalo de guerra, num cenário de aventura, paixão, morte, beleza e esperança.
O filme faz uma primorosa e comovente homenagem ao heroísmo dos cavalos de guerra. É um tributo à coragem, mas não é um filme sobre cavalos. É um filme sobre nós, os seres humanos, e nossa capacidade de ultrapassar todos os limites da racionalidade, para além do frágil limiar da vida, nessa última fronteira da insensatez e da loucura que é a guerra.
Francesca e Isabela choraram muito durante o filme. E eu...bom...quer dizer.