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sexta-feira, 23 de março de 2012


Porto Alegre, 240 anos. Ocorreu-me reescrever um velho poema:

NÃO POSSO CANTAR MINHA CIDADE
  
Não posso cantar minha cidade / sem também falar dos bairros silenciosos e solitários / com suas casas modestas, diáfanas e permanentes / Sem falar do cheiro úmido das portas fechadas / nas antigas ladeiras / onde pequenas janelas se abrem para a noite. / Não posso cantar minha cidade / sem falar da dor dos homens da rua / das mulheres que sofrem caladas /da mesa posta / da generosa humildade / e do pão que reconcilia. / Não posso cantar minha cidade / sem falar das pessoas que rezam contritas nas igrejas. / Sem falar das moças que saem do trabalho / e inundam a cidade com suas vozes / e sua inefável esperança. / Não posso cantar minha cidade / sem falar das escassas pandorgas / da vegetação humilhada / das chuvas de setembro / e das foscas vidraças. / Sem o frio espesso das madrugadas / não há como cantar minha cidade. / Não posso cantar minha cidade / sem falar da sonoridade de ferro dos trens urbanos / da obstinação dos ventos / do enigma das esquinas / e da súbita canção que vem das praças. / Não posso cantar minha cidade / sem dizer / que ela também é isso. / E que sem isso / também não sei viver.