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quarta-feira, 30 de maio de 2012


Cinema: "O Corvo"
O POEMA DO NUNCA MAIS E O ENIGMA DE POE

Li pouco Edgar Allan Poe e apenas na adolescência. O que pude conhecer, no entanto, me permitiu vislumbrar o gênio. O primeiro foi um livro muito popular e muito lido naquele tempo: "Os Assassinatos da Rua Morgue". O segundo, que vim a ler um pouco mais maduro, é um poema daqueles que quem lê nunca mais esquece, fica impregnado para sempre no nosso espírito: "O Corvo", na tradução de Machado de Assis.

 A atmosfera soturna de solidão e tristeza, a inevitabilidade da morte, o amor romântico intranscedente, que sabe que jamais atravessará os umbrais da eternidade para reencontrar a amada que se foi fizeram desse poema uma obra-prima da literatura universal. Em meio a um clima fúnebre, de tristes presságios e desesperança, há um amor sem limites, há um corvo pousado sobre uma estátua de Atena e o aflito lamento de algo que foi perdido para nunca mais. 

Edgar Allan Poe se tornou um autor cult, uma espécie de ícone da literatura gótica, admirado e reconhecido no mundo inteiro até os dias de hoje. 
Os jornais da época registram sem hesitação: a morte de Poe, coincidentemente, como as histórias que ele escreveu, foi cercada de enigmas e mistério. Poe foi encontrado pelas ruas de Baltimore, em 1849, em visível estado de perturbação mental, provavelmente sob efeito do álcool ou de drogas. Nessa condição de alienação e delírio viria a morrer alguns dias depois, no leito de um hospital. Sem nenhuma explicação. Sem que ninguém pudesse compreender as razões de seu estranho comportamento. 

A partir desse fato incontestavelmente verídico e documentado na Enciclopédia Britânica, o filme "O Corvo", em cartaz em Porto Alegre, produz uma fantástica história de ficção, envolta em sangue, tortura, horror, sacrifício e morte. Não é um filme para pessoas sensíveis a esse tipo de cena. Minha paixão por Poe me fez assistir a tudo - absolutamente gélido e aterrorizado na cadeira. E só ao final das cenas mais macabras eu descongelava. Graças à incumbência de - a cada passagem dantesca - ter de avisar Isabela de que ela já podia olhar de novo para a tela. 

John Cusak, que interpreta Edgar Allan Poe, imerge impetuosamente nessa lúgubre jornada, em busca de uma chave para o enigma de Poe, e constrói com impecável rigor e talento uma personagem perfeita: atormentada, obsessiva - em um filme simplesmente arrebatador. Na perspectiva dessa estética de sombras, é um grande filme. Extraordinário filme. Um filme digno de Poe.



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