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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

VIVO E PRESENTE, APÓS MAIS DE QUATROCENTOS ANOS

As idéias deste homem - e sua profissão de fé - estão profundamente impregnadas no espírito do povo dos Estados Unidos. Desde os primórdios da colonização. Desde as treze colônias, desde o advento da independência e da Constituição, erigida pelos pais fundadores da pátria. Graças à sua doutrina, o capitalismo floresceu na América como em nenhuma outra parte do mundo. A ilimitada capacidade de dissolver e de gerar riqueza, fazendo, da noite para o dia, um objeto útil tornar-se totalmente obsoleto pela inovação, a coragem de apostar  em projetos e empreendimentos revolucionários, de elevada incerteza e risco,  a disposição irrefreável de arrostar o futuro, de transformar e retransformar tudo à sua volta - esse turbilhão de permanente criação e destruição, de desintegração e mudança, esse sistema ao mesmo tempo prodigioso e terrível, em que tudo que é sólido se desmancha no ar - eis o espírito do capitalismo, eis o espírito da nação americana. Na raiz e no centro de tudo isso está o conceito por ele cuidadosamente elaborado: o de predestinação. A prosperidade é um sinal da bondade divina, é um privilégio de Deus, não uma mácula. Como um rastilho de pólvora, essa simples proposição teológica expandiu-se fantasticamente por todo o norte da Europa e pelo Novo Mundo, moldando uma história econômica de quatro séculos. O nome desse homem: Calvino. Jean Calvino. Sua ética do trabalho e da produção sempre esteve intrinsecamente associada a um dever de generosidade, ao compromisso dos escolhidos com uma vida ascética, frugal e disciplinada. Nisso, no entanto, nunca foi bem compreendido. O sociólogo alemão Max Weber foi quem, no início do século XX, colocou luz sobre a extraordinária importância e influência dessa figura humana singular, ao publicar, em 1905, "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo". Calvino passou os últimos anos de sua existência em Genebra, cidade onde veio a falecer, em 1564. Teve vida simples e recatada. No entanto, a robustez do seu pensamento - consubstanciado no Calvinismo - fluiu de maneira incontida e poderosa, do século XVI até nossos dias, rompendo todas as fronteiras do tempo. Concordemos com ele ou não, ei-lo aí, presente e vivo no grande embate que serão as eleições americanas deste ano da graça de 2012.