SOZINHA EM UM VALE DE
LÁGRIMAS
As drogas não são uma questão de solidão. São uma questão de companhia. Ninguém entra sozinho no mundo das drogas. Ninguém sai sozinho do mundo das drogas. Não é a solidão que põe alguém no vício, é a companhia. Não há registro de que alguém tenha dado o primeiro passo no recôndito isolado e solitário de seu quarto, longe do mundo, de tudo e de todos. Ao contrário. Em toda iniciação, sempre há uma companhia. Sempre há um indutor. Que influencia, legitima, reforça e dá validade à transgressão. Consumir a droga é ser aceito, é estar integrado. Recusar é ser um estranho, um excluído, um marginal. É descer duramente na escala hierárquica de afetos do grupo, ou de um amigo, ou de pessoa que se quer agradar ou impressionar. Depois de se tornar adicto, aí sim, qualquer lugar é lugar. Não precisa mais de companhia. O mesmo acontece na mão contrária, isto é, quando há disposição, por parte de alguém, de sair das drogas. Dificilmente essa emancipação é um ato individual e solitário. Ela precisa de suporte, de reconhecimento, de integração. Não pude deixar de fazer essas reflexões no fim de semana, assim que recebi a notícia da morte de Whitney Houston. Sua figura frágil, debilitada, altamente vulnerável, nos últimos anos, contrastava com o que fora, no auge de sua carreira, a força e a grandiosidade de seu testemunho como artista. Ela nos arrebatou com seu orgulho de ser mulher e negra quando cantou "I found the greatest love of all inside of me". Sua voz, indubitavelmente, está entre as três vozes femininas mais importantes da segunda metade do século XX em todo o mundo. Quem a jogou num abismo de sombras não teve coragem nem hombridade para resgatá-la de lá. Ela enfrentou sozinha seu vale de lágrimas. E não resistiu.