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quinta-feira, 26 de abril de 2012

COTAS RACIAIS NO STF
A PAIXÃO PELO BASQUETE E UM LIVRO QUE MUDOU MEU MODO DE PENSAR
 
O Supremo Tribunal Federal decidiu quinta-feira, 26-4-2012, pela constitucionalidade do sistema de cotas para estudantes negros nas universidades públicas do Brasil. Sabem em que eu estou pensando?

 
Era 1976 e eu estava em Los Angeles. À noite, no bairro de Inglewood, jogariam Magic Johnson e Kareen Abdul Jabbar, meus ídolos absolutos do basquete americano. Enterradas acrobáticas e passes milimétricos eram habilidades ainda pouco conhecidas aqui, mesmo entre os grandes craques do basquete brasileiro. Fiz das tripas coração para assistir ao jogo. Eu queria ter a oportunidade de ver com meus próprios olhos, e colher com a minha própria emoção nem que fosse apenas um lance, não mais do que um lance inesquecível, saído dos braços longilíneos e das mãos fantásticas de Kareen Abdul Jabbar. Não havia tv a cabo nem transmissões internacionais por satélite naquela época. Mas eu já era um aficcionado de Kareen Abdul Jabbar, nascido Lewis Alcindor, o Big Lew, nada mais nada menos do que o maior fenômeno da história do basquete americano.


Passados 20 anos daquele dia inesquecível, o acaso levou-me novamente a Los Angeles. Em 1996, a cidade continuava sendo um amálgama de avenidas retilíneas e absolutamente infinitas, highways tentaculares e distâncias invencíveis a pé. Mas os tempos haviam mudado. Abdul Jabbar já deixara as quadras, eu só tinha compromissos de trabalho e nenhum tempo disponível para ir a Inglewood, assistir aos Lakers. Por obra do acaso, visitando uma livraria especializada em sociologia e política, caiu-me às mãos um livro que iria mudar profundamente meu modo de pensar sobre a sociedade americana. Seu autor: Kareen Abdul Jabbar. Tìtulo: "Black Profiles in Courage" (Perfis de Coragem Negra).


A tese implícita do livro é simples: a diferença entre as crianças negras e os filhos de brancos nos Estados Unidos está em que estes possuem exemplos, dentro de sua família - o pai, um tio, o avô - nos quais se mirar para projetar suas perspectivas de vida, seus planos profissionais, suas aspirações e seus sonhos. Ou seja, no mundo dos brancos, bem ou mal, há uma elite, que cumpre o importante papel de modelo e estímulo às novas gerações – mesmo que isso possa ocorrer através de estereótipos ou idealizações. As comunidades negras, originárias da escravidão, eram desprovidas de exemplos. A discriminação positiva (com cotas obrigatórias) para o ingresso de cidadãs e cidadãos afro-americanos nas universidades dos Eua, existe para isso: para a formação de uma elite-espelho, cujo papel será o de encorajar os jovens negros a buscarem com esforço seus caminhos de realização e conquistas pessoais. Graças a esse sistema formou-se uma geração de generais, empresários, doutores, produtores culturais, artistas e altos funcionários de origem negra.


Tal como Kennedy fizera nos anos 50, escrevendo um livro sobre perfis de coragem americana, o Big Lew usara suas mãos gigantescas não para dominar rebotes ofensivos ou defensivos, não para um “toco”, uma “enterrada” espetacular ou um de seus “ganchos” incomparáveis, mas sim para produzir uma obra extremamente importante para o movimento negro nos Estados Unidos na sua luta por igualdade e respeito. Um processo duro, amargo, às vezes conflitante, que abriu o país para uma nova realidade: o fruto dessa experiência se consubstancia no fato de que, graças a isso, os negros americanos chegaram à Presidência da República
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