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domingo, 8 de abril de 2012


MORREU COM ELE UM POUCO DO MEU JEITO DE AMAR O FUTEBOL


Não, seu futebol não era infalível, não. Era apenas exímio, refinado, precioso, mágico, irrepetível. Apenas isso. Fiz-lhe algumas homenagens, recentemente, em nome da cidade. Entregamos-lhe a medalha de reconhecimento pelo cinquentenário da vitória brasileira no Panamericano de 1956. Comprei o seu livro, recebi seu autógrafo, um tempo atrás. Sempre fiquei com a sensação de que era pouco. Agora, que não é mais possível a gente se encontrar com o Airton nas andanças pela cidade, a grande homenagem que procuro prestar a ele é a de tentar rebuscar, com todo cuidado, rigor e carinho, nesse espaço frágil, difuso e imponderável a que chamamos de memória, os vestígios daquela magnífica imagem, ainda que esmaecida e fugidia, da sua figura imponente, do desassombro das suas jogadas, da sua inexplicável destreza em slow-motion, da bola absolutamente soberba e invencível que saía de suas chuteiras imortais. Faço isso também, confesso, para me agarrar de algum modo ao guri que eu fui. Não havia TV, o futebol não era transmitido e retransmitido de um canto a outro do planeta. Com ele, o futebol se tornou sublime aos meus olhos. Agora, que Airton morreu, morreu também um pouco do meu jeito de amar o futebol.