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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

BILL GATES: A EXCENTRICIDADE, O HUMANISMO E O TOALETE
 
O sr. Bill Gates, o homem que criou o Windows, e sua esposa, a sra. Melinda Gates, querem revolucionar o mundo com uma iniciativa social que para alguns pode parecer uma solução menor, banal e até - considerando que provém de um dos grandes cérebros do nosso tempo - um tanto quanto medíocre e inconsistente. No entanto, o projeto de Bill e Melinda é ambicioso em escala e profundidade: eles desejam mudar as condições de vida
 e saúde de 2.6 bilhões de seres humanos do planeta. Exatamente o quê eles prentendem? Bill e Melinda querem simplesmente reinventar o toalete. Se essa não é uma expressão entendida por todos, vamos deixar bem claro: Bill e Melinda querem reinventar a latrina. Um novo modelo de vaso sanitário dentro de um sistema sustentável: mais funcional, mais barato, mais acessível, mais limpo, mais reciclável. Doaram, com esse fim, através da Fundação Gates, 400 mil dólares a algumas universidades do mundo. Pesquisadores da China, Suíça, Holanda, Estados Unidos e Canadá estiveram reunidos esta semana com eles em Seattle.
Faz bem pouco tempo, tive a chance de ler o livro que recebi de meu amigo Eurico Salis: "Em casa - uma breve história da vida doméstica", do arquiteto e escritor inglês Bill Bryson. Bryson conta em sua obra que a maior atração da Grande Exposição de Londres de 1850 foi o vaso sanitário. Milhares de pessoas por dia, mais de 800 mil no todo, fizeram fila para ver a nova maravilha. A Inglaterra vivera os horrores da Grande Cólera. Trazida da Índia, a doença devastou a cidade em 1832 e causou grande mortandade. Ou seja: a latrina e o sistema de esgotos não foi um tema menor: foi, na verdade, um tema vital para a humanidade no epicentro das grandes transformações do século XIX. E continua sendo vital para muita gente, em vários quadrantes da Terra. Bill e Melinda poderiam usar sua incomensurável fortuna para oferecer prêmios charmosos, de grande repercussão na imprensa e na TV, que os colocaria sob a feérica luz dos holofotes. No entanto, o que os preocupa é a latrina. É, em outras palavras, a saúde humana. A saúde de pessoas para as quais ninguém olha, pessoas que não têm voz neste mundo. Algumas matérias sobre o assunto não escondem um certo desdém a algo supostamente tão simplório. É visível um certo tom de excentricidade nas notícias. Há quem diga que o projeto não passa de uma vulgaridade. Penso o contrário: Bill e Melinda podem ser excêntricos, mas há, na sua iniciativa, um singular, despojado e inegável conteúdo humanista. E isso, em minha humilde opinião, merece respeito.
(veja o clip abaixo:)